Em uma era em que o a ciência trancava e fechava seus portões para as mulheres, a botânica permitia que as mulheres vitorianas entrassem na ciência pela porta dos fundos da arte, principalmente nos desenhos científicos de cogumelos de Beatrix Potter e na impressionante classificação ilustrada de algas marinhas de Margaret Gatty.
Do outro lado do Atlântico, esta aventura da arte-ciência na botânica encontrou um improvável, mas apaixonado, praticante em uma das poetisas mais amadas e influentes da humanidade: Emily Dickinson (10 de dezembro de 1830 – 15 de maio de 1886).
Muito antes de começar a escrever poemas, Dickinson empreendeu uma arte de contemplação e composição bastante diferente, embora inesperadamente paralela – a coleta, cultivo, classificação e prensagem de flores, que ela via como inspirações não muito diferentes daquelas que aplicava em seus poemas.
Dickinson começou a estudar botânica aos nove anos e começou ajudando sua mãe no jardim aos doze, mas foi só quando passou a frequentar a faculdade privada de artes liberais para mulheres Mount Holyoke, no final da adolescência, que começou a abordar seu zelo botânico com rigor científico.
Mary Lyon, a fundadora e primeira diretora da escola, também era uma botânica fervorosa, treinada pelo famoso educador e horticultor Dr. Edward Hitchcock. Embora Lyon encorajasse todas as suas meninas a coletar, estudar e preservar flores locais em herbários, o herbário de Dickinson era uma obra prima de precisão incomum e beleza poética: 424 flores da região de Amherst, que Dickinson celebrou como “lindos filhos da primavera”, arranjada com notável sensibilidade à escala e cadência visual ao longo de sessenta e seis páginas em um grande álbum encadernado em couro.
Etiquetas de papel finas pontuam os espécimes como traços enormes inscritos com os nomes das plantas – às vezes coloquiais, às vezes científicos – na caligrafia elegante e esbelta de Dickinson.
O que emerge desta obra é uma capsula do tempo, composta pela paciência apaixonada da artista, emanando o mesmo despertar para a sensualidade e mortalidade que marca a poesia de Dickinson.
Embora o herbário original sobreviva na Sala Emily Dickinson na Biblioteca de Livros Raros Houghton de Harvard, o exemplar é tão frágil que até estudiosos são proibidos de examiná-lo.
Mas em um testemunho encorajador das humanidades digitais como uma força de administração cultural, a universidade de Harvard digitalizou o herbário de Dickinson em sua totalidade. Uma das páginas mais esteticamente dramáticas do herbário apresenta oito tipos diferentes de violeta, uma flor que Dickinson apreciava acima das outras pelo seu esplendor e beleza delicada.
Uma característica especialmente peculiar do herbário de Dickinson é sua escolha para a página de abertura: jasmim tropical – não uma planta nativa da flora tradicional de sua época e lugar, mas um nativo, talvez, do deserto de sua imaginação – a mesma imaginação da qual seus versos que quebram tradições e aonde amores proibidos floresceram. Todas as sessenta e seis páginas do herbário de Dickinson podem ser vistas no site das Bibliotecas de Harvard.
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